Minha mãe adorava vestir em mim, devido ao pavor que ela tinha do frio entre outras neuras, peças de roupas que eu detestava, e pior: coisas que eu nunca - mas nunca mesmo - via outra criança usando. Pelo menos não as 400 crianças lá do colégio. Eram ponchos, cacharréis por baixo da blusa, botas ortopédicas, e um gorro chamado ivanhoe, que cobria toda a cabeça e deixava de fora os olhos, o nariz e a boca. Se deixei de pegar pneumonia e morrer por causa de um ivanhoe ou de um poncho, não sei. Mas a infância já infeliz ficava pateticamente mais desgraçada ainda com o uso de tais adereços. Mas a vergonha de usar aquilo não bastava. Estava eu, em um dia de inverno, na kombi escolar, já em frente à porta de casa. Quando comecei a sair do veículo, um menino maior, que estava no banco de trás, agarrou a ponta do meu tal gorro e puxou para trás o máximo que ele pôde, sem largar, de forma que o negócio, que estava super bem amarrado no pescoço, quase me enforcasse, além das dores pelo roçar da lã na pele, a torção violenta da cabeça e os cabelos que foram junto. Mas a dor maior era por dentro (e não, ninguém fez nada por mim, nem na hora e nem depois....).
Mais Uma Chance
domingo, 15 de maio de 2011
segunda-feira, 9 de maio de 2011
O número 2
No prezinho, a professora fez quadradinhos na lousa para que treinássemos os numerais. Cada aluno seria chamado para preencher alguns quadradinhos com um determinado número, até desenhá-lo bem. Os primeiros desenhariam o numero "1". Eu tinha certeza que na minha vez eu seria obrigada a desenhar o "2", pois era o único número que eu não sabia escrever: eu fazia a bolinha para trás. Quando chegou minha vez, ela falou: você vai desenhar o dois! Fiz errado, então ela me mandou treinar no caderno. No caderno desenhei errado novamente. Quando ela foi corrigir, pegou uma borracha e começou a apagar o que eu havia feito bem estupidamente, e ainda falou: MAS QUE MENINA IMBECIL!! Ainda bem que a classe estava num barulho só. Mas uma menina ouviu e eu a vi cochichar para outra: - a tia chamou ela de imbecil...
sexta-feira, 29 de abril de 2011
A boneca dos sonhos!
Brinquedos, de meus pais, eu ganhava no Natal. No aniversário, a festinha e o bolo. Na Páscoa, um ovo tamanho 11 ou 14. No Natal em que eu tinha seis aninhos, eu iria ganhar a "boneca que engatinhava", estava muito ansiosa. Quando abri o presente no dia 25, lá estava ela, tão linda, tinha roupinha bonita e engatinhava mesmo, colocando-se pilhas na parte das costinhas e ligando o botão. Engatinhava e virava a cabecinha (da melhor forma que uma boneca poderia engatinhar com a tecnologia daqueles tempos). Eu estava muito feliz!!! Meu irmãozinho, já na época, fazia muitas maldades e dava pistas da pessoa que iria ser para todo o sempre. Quando viu minha alegria, pegou minha boneca e jogou longe. A boneca se escangalhou e, depois daqueles 60 segundos que tive de felicidade, nunca mais engatinhou.
quarta-feira, 30 de março de 2011
A nova escolinha
No ano em que iria completar seis aninhos, para fazer o prezinho, meus pais me matricularam em uma nova escolinha, tradicional, carésima e que só aceitava meninas. Em parte graças a isto, enfrentei na infância meio que um complexo de inferioridade e pelo resto da vida uma inabilidade em lidar com o sexo oposto. Obrigada!
quarta-feira, 23 de março de 2011
O anel de lua e estrela
Era pequena e fui brincar no apartamento da vizinha, um aninho mais nova. Estava usando um anel infantil de metal com uma lua e uma estrela, que sonhei em ganhar pois amava aneizinhos e principalmente, as figuras de lua e estrela. Como estava feliz!! A mãe da menina saiu do apartamento e nos deixou com o pai. Brincando sozinhas no quarto, não me lembro como aconteceu, meu anel raspou na mão da menina e fez um cortinho. Ela foi contar ao pai, ele veio e me deu um grande beliscão. A mãe da menina me encontrou quase doente deitada no chão frio da cozinha. Perguntou o que aconteceu, não lembro se contei. Pelo que me conheço daquela época, não contei nada para ninguém. Ela me devolveu à minha mãe, e tudo ficou por isso mesmo.
sábado, 19 de março de 2011
Parabéns para mim
Aí chegou o dia do meu aniversário, minha mãe na classe organizando a mesa com o bolo e etc. Quando começaram a cantar parabéns, levei um susto do nada: aquela cambada de gente, crianças e adultos, pelas quais eu não tinha a menor simpatia, olhando para mim e cantando, um barulho horroroso, que terror!! Não sei por que, detestei aquilo. Me escondi inteira atrás do coxão da minha mãe e a partir daí foram pouquíssimos os 'parabéns para você' que me deram alguma alegria.
quarta-feira, 16 de março de 2011
O tchauzinho
Na escolinha, horário de recreio para nossa turma. Eu e minha melhor amiguinha estávamos dando voltas pela escola. Devíamos ter algo entre 4 e meio e 5 aninhos. Passamos em frente à classe do maternalzinho, que era numa casinha anexa, e tinha uma janela voltada para o jardim do recreio bem baixa e larga. As crianças estavam na classe fazendo atividades com a tia, na maior bagunça. Paramos ali e falei para minha amiguinha: olha lá meu irmãozinho!!! Eu estava bem feliz! Acenamos para ele, dando tchauzinho. Não durou cinco segundos aquela felicidade - a super bem preparada professorinha histérica grita lá de dentro: SAAAIAM DAQUIII !!! VOCÊS ESTÃO ATRAPALHAAANDO !!!
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