domingo, 15 de maio de 2011

O ivanhoé ridículo

Minha mãe adorava vestir em mim, devido ao pavor que ela tinha do frio entre outras neuras, peças de roupas que eu detestava, e pior: coisas que eu nunca - mas nunca mesmo - via outra criança usando. Pelo menos não as 400 crianças lá do colégio. Eram ponchos, cacharréis por baixo da blusa, botas ortopédicas, e um gorro chamado ivanhoe, que cobria toda a cabeça e deixava de fora os olhos, o nariz e a boca. Se deixei de pegar pneumonia e morrer por causa de um ivanhoe ou de um poncho, não sei. Mas a infância já infeliz ficava pateticamente mais desgraçada ainda com o uso de tais adereços. Mas a vergonha de usar aquilo não bastava. Estava eu, em um dia de inverno, na kombi escolar, já em frente à porta de casa. Quando comecei a sair do veículo, um menino maior, que estava no banco de trás, agarrou a ponta do meu tal gorro e puxou para trás o máximo que ele pôde, sem largar, de forma que o negócio, que estava super bem amarrado no pescoço, quase me enforcasse, além das dores pelo roçar da lã na pele, a torção violenta da cabeça e os cabelos que foram junto. Mas a dor maior era por dentro (e não, ninguém fez nada por mim, nem na hora e nem depois....).

          

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